PHDA no Adulto

Não obstante historicamente a Perturbação de Hiperatividade/Défice de Atenção (PHDA) ser sobretudo investigada e diagnosticada na idade pediátrica, mais recentemente a PHDA na idade adulta tem sido alvo de inúmeros estudos em resultado da crescente preocupação que as instituições internacionais (por exemplo, a Organização Mundial de Saúde e a Associação Americana de Psiquiatria) e os clínicos têm por esta, cada vez mais, importante condição psicopatológica no adulto.

De facto, nos últimos anos assistiu-se um número considerável de publicações científicas sobre a prevalência da PHDA no adulto, de instrumentos de avaliação e, sobretudo, sobre as consequências e o impacto da PHDA no funcionamento social/ocupacional/profissional, no bem-estar emocional e na relação comórbida com outras perturbações mentais.

Prevalência da PHDA no Adulto

Como referido na página da Prevalência da PHDA, a Associação Americana de Psiquiatria estima, no seu Manual de Diagnóstico (DSM-5 e DSM-5-TR) que 2,5% dos adultos apresentam esta perturbação. Diversos estudos (meta-analíticos ou em grandes amostras da população geral) têm reportado uma prevalência ligeiramente superior de PHDA no adulto, que pode variar entre os 2,5% e os 5% (Fayyad et al., 2017; Kessler et al., 2006; Willcutt, 2012). No mais recente relatório epidemiológico da Organização Mundial de Saúde é estimada uma prevalência média de 2,8% a nível mundial, sendo mais elevada nos países economicamente mais ricos (3.6%), do que nos países com um desenvolvimento económico médio-alto (3%) ou baixo (1.4%). Neste relatório é estimada uma prevalência de 3% de PHDA no adulto para Portugal, com 56,3% dos casos diagnosticados na idade pediátrica a persistirem na idade adulta (Fayyad et al., 2017).

Ao contrário do que ocorre na idade pediátrica, onde a PHDA é claramente mais prevalente nos rapazes, na idade adulta a prevalência da PHDA entre homens e mulheres é bastante próxima. Nas raparigas e mulheres observa-se sobretudo a PHDA com Apresentação Predominantemente de Desatenção. Diversos estudos sugerem que a PHDA nas raparigas em idade infantil poderá estar subdiagnosticada, uma vez que exibem menos comportamentos externalizantes (por exemplo, agitação motora e impulsividade), o que poderá levar a uma menor referenciação para uma avaliação clínica por parte dos pais e/ou professores (a desatenção é mais difícil de identificar e pode não ser reconhecida por estes como um sintoma clínico). O principal motivo que leva os adultos à consulta de diagnóstico de PHDA é normalmente a baixa produtividade no trabalho e o facto de reconhecerem vários destes sintomas durante a sua infância, adolescência e idade adulta.

PHDA no Adulto e o impacto no Funcionamento Social, Ocupacional e na Saúde Mental

Os critérios de diagnóstico do DSM-5 para a PHDA na idade adulta são similares aos da idade pediátrica, havendo apenas a redução do número de sintomas necessários para o diagnóstico (5 ou mais sintomas de desatenção e/ou 5 ou mais sintomas de hiperatividade-impulsividade nos adultos, enquanto na crianças são necessários 6 ou mais sintomas). O interesse das instituições internacionais e dos clínicos pela PHDA no adulto está sobretudo associado ao seu significativo impacto no funcionamento social e ocupacional, no bem-estar emocional e na sua associação com outras perturbações psicopatológicas.

De um modo geral, para além dos sintomas nucleares de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade, a PHDA no adulto conduz a uma:

  • Baixa produtividade no trabalho — (1) não consegue finalizar as tarefas dentro do prazo; (2) inicia novas tarefas sem terminar as anteriores, acabando por não terminar nenhuma delas; (3) esquece-se de assuntos, recados ou reuniões; (4) dificuldades em manter a atenção nas atividades, distraindo-se facilmente perante outros estímulos; (5) evita ou procrastina a realização de tarefas que considera desinteressantes, monótonas ou cognitivamente mais exigentes; (6) dificuldades no planeamento e organização das atividades; (7) mudança frequente de emprego ou de curso universitário (desiste após os primeiros meses/anos); entre vários outros.
  • Alterações emocionais e sociais — (1) baixa autoestima; (2) sintomas depressivos e/ou ansiosos; (3) dificuldades na regulação emocional; (4) dificuldades nas relações sociais com o grupo de pares e/ou familiares; (5) dificuldades em fazer e manter as amizades; (6) algum isolamento social; (7) reduzida qualidade de vida; (8) dificuldades nas relações amorosas; (9) conflito conjugal e/ou separação/divórcio; entre vários outros.
  • Abuso e/ou dependência de substâncias ou atividades — (1) substâncias (por exemplo, tabaco, álcool, marijuana, cocaína, heroína, açúcar); e (2) atividades (por exemplo, videojogos, jogos de azar).
  • Outros comportamentos disruptivos — (1) impulsividade e/ou agressividade (verbal e/ou física); (2) frequentes acidentes de automóvel, bicicleta, etc.; (3) lesões físicas devido a acidentes e/ou à impulsividade; (4) envolvimento em situações antissociais e/ou criminais; entre várias outros.
  • Outras condições psicopatológicas — Presença de outras perturbações, sendo as mais frequentes a depressão, perturbações de ansiedade, perturbação bipolar, perturbação desafiante de oposição, perturbação obsessivo-compulsiva, perturbações da personalidade, ideação suicida, morte prematura (devido aos acidentes, dependência de substâncias e ideação suicida), entre outras.

Assim, torna-se muito importante a identificação, diagnóstico e tratamento da PHDA no adulto em função do significativo impacto que os sintomas nucleares da PHDA (desatenção, hiperatividade e impulsividade) têm nos diversos domínios de vida. Neste contexto, os clínicos e a população geral deverá estar atenta a este espectro sintomatológico para mais rapidamente se efetuar uma avaliação e tratamento.